Jornalismo de Paz,
“jornalismo de paz …..em tempos de guerra” - Uma reflexão de Johan Galtung
In: “peace journalism in times of war” (library of congress) do autor Johan Galtung, (sociólogo, matemático e fundador da cadeira da paz e estudos de conflito).
Para ele o jornalismo de paz
“É orientado pela Paz e não
pela constante referência à violência;
É orientado pela verdade e não pela propaganda dos interesses em
conflito;
É
orientado pela vontade popular e não pelos interesses das elites;
É orientado pela ajuda a encontrar soluções para os conflitos e não
pela descrição da violência.”
PROGRAMA DE PAZ PARA ADOLESCENTES NA RÁDIO
Vamos abrir espaço a
reflexão sobre o tema o que seria um programa de rádios de paz ao serviço
dos adolescentes?
Será que como diz o prof
José os jovens não se debruçam sobre os programas de rádio? Mesmo à noite
quando estão a estudar para os exames, ou quando circulam nos carros para as
“farras” ou para as escolas?
«A minha experiência como professor de adolescentes
é, para já, lamento ter de o dizer, a de que eles não ouvem rádio.
Em segundo lugar, a de que, mesmo
quando frequentam outros media - televisão ou revistas,
mas principalmente a net -, nunca o fazem para saber o
que especialistas pensam sobre os adolescentes.
Estou a tomar toda uma geração por inculta ou
desinformada?
Não haverá então rapazes e raparigas que
seguem debates sobre política, sobre as aspirações dos jovens, ou sobre
sexualidade?
Se sim, constituirão certamente uma minoria de
adolescentes precocemente informados, curiosos, treinados nas juventudes
partidárias. Não se trata da maioria. A maior parte dá os primeiros passos
no interior de uma cultura própria, muito fechada, com uma linguagem,
interesses e referências que os adultos em geral desconhecem. Tentem
seguir a sua comunicação vertiginosa nas redes sociais, os Facebook ou os Twitter. As frases
sincopadas, as private jokes, as referências
incompreensíveis para os mais velhos. Não são incultos nem alienados: são adolescentes,
e esse parece-me o comportamento natural de quem precisa de se
autonomizar.
Por estas duas razões - a rádio não ser um meio
da sua preferência e os adolescentes resistirem, quase por dever, aos
temas que os adultos lhes impõem de fora segundo modelos concebidos e
dinamizados por adultos, "especialistas" nesta ou naquela área -,
um programa radiofónico dirigido por adolescentes tem de ser
planeado com a colaboração de adolescentes. Tem de,
sobretudo, ser um programa - acreditem que este aspecto
é o de mais difícil concretização - que eles não vejam como um lugar
didáctico ou pedagógico, de ensinamentos e lições do Doutor X ou do Professor
Y; deveria ser um programa onde os adolescentes pudessem dizer tudo, sem
receios nem tabus.
Acredito que, numa primeira fase, um programa
que interessasse aos adolescentes, inverteria os objectivos. A
pergunta que os capta não é: «O que têm os adultos a ensinar-me [sobre
política, inteligência emocional ou sexualidade]?», mas: «Que temos nós a
ensinar aos adultos - como falamos ou vestimos, que desejamos realmente [não o
que dizem ou pensam eles que desejamos], o que é a política, o amor ou o
sexo para nós?»
_____________________________________________________________________________________________José Pacheco
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Os jovens ainda ouvem rádio…..não dizem mas ouvem……no silêncio mas também são criativos e abrem caminhos para noves formas de rádio
“A propósito do debate sobre adolescentes e a rádio……gostaria de incluir o
meu testemunho.
Trabalhei
em vários projetos de rádio em Bissau, Mansoa, Bafatá e também em Cabo Verde.
Os
adolescentes constituíram sempre a principal “rede” de grupos de amigos
das rádios : angariavam dinheiro nas respetivas escolas para projetos de
programas na área da musica, da solidariedade, cinema. Tinham ideias
inovadoras , propostas generosas e também eram os “proprietários e autores” de
programas de rádio muito avançados, quer em termos musicais –introduziram o
rap, musicas africanas de diversas regiões, programas ao ar livre, como
seguraram algumas rádios em tempo de conflitos.
Mesmo com
internet e até recorrendo às novas tecnologias (casos de Bissau e Mindelo),
grupos de estudantes faziam emissões internacionais de programas locais com
grande repercussão nos Estados Unidos, Portugal e França. Dialogavam
globalmente. Mas o curioso é que conseguem manter uma característica bem
africana: a ótima memória auditiva tão comum aos povos que ainda mantêm a
tradição oral e a transmissão da história pela voz.
Devo confessar
que adorava, como velho radialista, circular nas ruas das cidades ou
vilas da Guiné e Cabo Verde e ser reconhecido pela voz! Quantos problemas
pessoais não consegui resolver pela voz que Deus me deu , como dizia
o outro.”
Comentário
de :”a voz de veludo”
OS MEDIA E A VIOLÊNCIA – RISCOS PARA A SOCIEDADE
A reflexão
sobre um tema como este da “Os Media e a Violência – Riscos para a Sociedade”,
implica necessariamente uma reflexão sobre a ética da comunicação social e dos
media. As análises e as propostas que se querem debater e as transformações que
daí podem resultar, não podem nem devem ser feitas contra os media, mas com os
media. Estas Jornadas são disso prova e representam, só por si, uma tomada de consciência
que é de louvar.
De
há muitos anos venho combatendo a falta de parâmetros éticos, de regras que
balizem a qualidade dos programas que se oferecem nos meios de comunicação, na
TV e agora - não deixo de estar atenta - nos chamados novos media, em
particular a internet.
Quando
soaram os primeiros alarmes sobre a influência negativa que os media podiam
ter, perante os estudos que ia lendo e os dados que me iam chegando, afirmei
que cabia também aos media um papel pedagógico.
Fui
acusada de exagero e mesmo de pretender o cerceamento da liberdade de expressão!
Muitos
dos responsáveis da área diziam que não, não lhes cabia “educar a população”.
Claro que não. Nem era isso que lhes era pedido.
Pedia-se-lhes
que assumissem a responsabilidade inerente ao poder que entretanto adquiriram e
sabiam possuir. Hoje os responsáveis sabem, como sabiam, que o seu papel e a
sua influência são enormes.
Percebemos
todos que apareceram novos problemas - e alguns muito graves - a exigir uma reflexão
e uma urgente actuação no sentido de se encontrarem medidas de ordem política, económica
e social para os resolver.
Os
equilíbrios resultantes de uma determinada forma de organização da sociedade, a
arquitectura do sistema das relações sociais, as próprias instituições
tradicionais e básicas foram postas em causa: a família, as comunidades locais,
a sociedade civil em geral e, até mesmo, os próprios Estados.
Os
meios de comunicação social, desenvolveram-se e passaram a ter um papel muito
importante na vida das pessoas.
Deram-lhes
uma visão mais larga do planeta, aproximaram os sítios geograficamente mais
distantes, trouxeram o conhecimento de outros tipos de culturas, oferecendo
novos padrões e referências. Infelizmente nem sempre as melhores...
Se
alguns destes eventos contribuíram para uma maior dignificação de elementos da
sociedade, até aí discriminados, muitos deles, porém, foram fortemente
inspiradores de modelos e de acções extremamente negativos.
Os
meios de comunicação não podem eximir-se da pesada responsabilidade que,
queiram ou não, têm.
Infelizmente,
porém, o papel que os media têm desempenhado vai, em grande parte, ao arrepio
daquele que devia ser: veículo de cultura, painel de diversidades éticas,
apresentado de maneira a criar o sentimento de pertença a uma comunidade cívica
onde todos têm um espaço e onde os valores lhes são comuns.
Esquecidos
ou ignorantes dessa função, alguns media têm sido instrumento fomentador de
competições desadequadas, de consumismos ferozes, de massificação de culturas,
elemento castrador em vez de impulsionador de criatividade artística, redutor
da cultura ao nível da mercadoria e, muitas vezes, de mercadoria de muito baixa
qualidade.
Numa
conferência em Lisboa, no Instituto Franco-Português, Ignácio Ramonet
pronunciou-se acerca da temática dos Media enquanto baluarte da liberdade de expressão,
dizendo: “Os media já foram um instrumento essencial da democracia. Mas hoje,
são parte do problema que a mina”, porque se entregaram a uma perspectiva
economicista das empresas que os detêm. “(...) A liberdade de expressão deixou
de ser uma característica pertinente dos media. Ela já não serve o principal
objectivo dos media, que era o de se assumirem como contra-poder. (...) A ordem
inverteu-se e hoje o 1º poder já não é o político, mas antes o económico”.
Ramonet
entende que a primeira preocupação dos grupos dos media é hoje o lucro e a
rendibilidade dos programas e mesmo os conteúdos jornalísticos procuram apelar
mais pelo lado da emoção do que pela razão, procurando apenas o espectáculo. “Deixou
de ser prioritária a intervenção na sociedade com idealismo cívico, de modo a
fazer uma sociedade mais humana, calorosa e democrática”, afirmou.
Ao
perseguirem apenas as audiências que determinam o investimento publicitário
que, por sua vez, dá o lucro às empresas, explorando e permitindo um verdadeiro
estendal de violência, os media têm, muitas vezes, contribuído para uma cultura
de violência, de irresponsabilidade e de desrespeito (David Walsh).
Estamos
diante de uma sociedade vulnerável - como, aliás, todas as sociedades democráticas
e por isso abertas - às influências e agressões de programas , de notícias, de
sugestões as mais diversas, as mais grosseiras e violentas que, sobretudo, o
cinema, os media tradicionais e os chamados novos media veiculam.
Basta
atentarmos na maneira como as notícias de violência são dadas, os pormenores e ênfase
postos no que elas têm de mais sórdido e agressivo, para percebermos as marcas
e impressões que, inevitavelmente, provocarão.
Os
efeitos que as cenas de violência têm nas crianças e nos jovens são, inevitavelmente,
enormes, tanto mais que, a maior parte das vezes, eles são testemunhas isoladas
dessas cenas, visto a estrutura das famílias, as condições difíceis e o tempo
para o necessário acompanhamento das crianças ser cada vez menor.
Como
afirmava Liliane Lurçat, psicóloga francesa que se tem debruçado sobre os
efeitos da Televisão nas crianças, “através da TV a criança apreende o mundo
sem um contacto sensorial com ele. A relação com o real, sem intervenção dos
sentidos - a criança não apalpa, não cheira, não vê o mundo tal como ele é, mas
como a Televisão lhe mostra - é uma relação de desrealização, uma ligação não
realizada ou mal realizada; ora essa relação é fundamental para a formação da sua
personalidade e inserção na sociedade”.
E
afirmava, “a TV faz uma iniciação brutal das crianças nos aspectos mais
rudes do mundo dos adultos”. E acrescenta ainda, que a TV diverte e inquieta
trazendo o mundo exterior a casa, mas roubando às crianças “horas de silêncio e
de sonho, horas de ócio”.
Aliás,
isso reflecte-se nos desenhos, nos jogos, na linguagem e atitudes das crianças,
antes e depois de irem para a escola. Como diz a grande Professora – “Pela
falsa intimidade e familiaridade com seres fictícios ou reais, a TV alarga o
campo de imitação a modelos ate aí desconhecidos na casa e na escola”.
Esta
impregnação emocional leva, segundo alguns especialistas, ao mimetismo de
comportamentos.
Lurçat
lembra que, antes da TV, o desenho na Pré-primaria era infantil e “sage”. Hoje,
com frequência, se tornou explosivo, povoado de robôs destruidores.
A
criança apreende um mundo virtual que espicaça e super alimenta o seu imaginário,
podendo conduzir a actos inesperados e insensatos.
Existe,
todos o sabemos, uma credulidade própria das crianças. Que consequências poderão
surgir perante tanta distorção da realidade?
É
evidente que há muitos outros factores que podem explicar os comportamentos
violentos e que seria demasiado simplista relacioná-los apenas com a violência
passada pelos media. Os media não são a causa primeira e única da violência.
Como dizia Eduardo Lourenço, referindo-se ainda ao séc. XX, a propósito da TV,
“ela é espelho portátil do caos ético deste fim de século”.
Mas
estou convencida, pelo que tenho lido e visto, que muitos crimes e atitudes
extremas de agressividade poderiam ser evitados se houvesse a preocupação de
diminuir esse tipo de violência.
Segundo
recentes noticias, “as crianças estão a ver mais TV”. As crianças e jovens dos
4 aos 14 anos foram as que mais aumentaram o consumo de TV. Cada criança e
jovem portugueses passaram em media 2 horas e 55 minutos diante da TV por dia,
nos primeiros 9 meses de 2008, segundo dados da Marktest.
Trata-se
antes, a meu ver, de compatibilizar o direito à liberdade de expressão,
consagrado nos textos fundamentais que ordenam a nossa vida, com a defesa
indelegável e inadiável dos direitos das crianças, designadamente do seu
direito a um saudável desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e
social, como prevê a Convenção sobre os Direitos da Criança (art. 27°).
Na
Convenção Europeia dos Direitos Humanos, o art. 10° garante o direito à
liberdade de expressão e afirma igualmente, que o exercício desse direito pode estar
submetido a certas restrições por outros motivos específicos, nomeadamente a protecção
da saúde e a prevenção do crime.
Por
isso, e necessário actuar e já! Sem medos de sermos acusados de atitudes
censórias! É o futuro das novas gerações que está em causa. É o futuro da
sociedade, do mundo
Pretendemos
o estabelecimento de regras, de parâmetros éticos, que balizem os media.
Defendo
a criação de mecanismos de regulação nos media. Em primeiro lugar, através da auto-regulação
dos próprios media, que devem elaborar os seus códigos de conduta tendo em
conta a sua responsabilidade social e a importância especial que novos fenómenos
de violência vêm adquirindo.
Mas
também pelos Estados, que devem exigir-lhes o respeito pelas regras do direito.
Numa
época em que a informação e as novas tecnologias se universalizam e
democratizam, é importante dar especial atenção aos chamados novos media.
Tal
como os media tradicionais (imprensa escrita, a rádio e a TV) estes novos meios
são instrumentos fantásticos, que abrem portas ao conhecimento, à comunicação
global, ao intercâmbio de ideias e de saberes.
O
contacto com essas tecnologias (as chamadas tecnologias de informação) é um dos
factores principais do desenvolvimento. É importante que se universalizem e
democratizem as vantagens que esses meios espantosos podem proporcionar, por
quanto facilitam o acesso a informação e ao conhecimento, como ficou definido
por todos os líderes dos países mais desenvolvidos, na chamada “Conferência do Milénio”,
sob a égide das Nações Unidas e de Kofi Annan.
Desconhecemos
ainda os meios absolutamente eficazes de controlo a estes conteúdos, mas há que
aprofundar as tecnologias que o permitam fazer. E precisamos de estar
vigilantes. E faço o mesmo apelo que Vivianne Reding, a Comissária Europeia
para a Sociedade de Informação e Media, fez: “a todos os decisores do sector público
e privado, que ajudem a tornar a Internet num sítio seguro para os mais vulneráveis
da nossa sociedade”.
Os
media podem e devem ter um papel pedagógico. Usá-los como instrumentos
privilegiados para transmissão de mensagens que contribuam para a formação do
carácter, para a modelação da personalidade dos jovens, que queremos agentes de
mudança da sociedade em que hoje vivemos, é uma exigência que todos nós estamos
obrigados a fazer.
Penso
que nunca é demais insistir! Não podemos nem devemos deixar de estar activos e
atentos a estes problemas, denunciando a gravidade da situação e chamando,
sobretudo, a atenção para o facto de estarmos deixando corroer o tecido social
e até - tenhamos a coragem de o afirmar! - abrindo caminho à destruição da
Democracia, da paz.
Não
é contra a liberdade, mas pela liberdade que lutamos. Porque sabemos, mesmo numa
altura de grande crise e incerteza, como esta que vivemos, que é possível um
outro futuro, mais livre, mais próspero e mais fraterno.
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Conferência em Road Island , EUA (21 a 25 de Setembro 2010)
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